Mancuso once again.
No dia mais longo do ano... foi lindo!
Esta foi a canção da noite, aqui vai o original:
Bem, parece que os "blogs" estão na moda, mas já estiveram mais. Com esta frase percebem a sucessão de futilidades que se seguirão, ou não.
É um dos mais notáveis intelectuais portugueses do século XX. Agostinho da Silva deixou uma obra paradoxal, afirmando a liberdade como a mais importante qualidade do homem. O seu pensamento é uma porta de acesso a outros universos, outros olhares. Tinha uma curiosidade infatigável: é um filósofo prático, cujo pensamento ultrapassou fronteiras. No Brasil, ajudou a fundar várias universidades. “É o grande subversor da cultura instituída: usa uma linguagem que todos compreendem, desde o grande erudito ao total analfabeto”, diz o escritor Fernando Dacosta.
Agostinho da Silva foi dos mais paradoxais pensadores portugueses. “Para mim, é a personalidade mais marcante da 2.ª metade do século XX português, tal como Fernando Pessoa é da 1.ª metade”, afirma o escritor Fernando Dacosta. “Conciliava um raciocínio rigorosíssimo com um mistério profundo das coisas. Conseguiu a harmonia de realidades verdadeiramente inconciliáveis.” Não é por acaso que ele se autodefiniu com a seguinte frase: “Não sou um ortodoxo nem um heterodoxo. Sou um paradoxo.”O tema mais candente da sua obra foi a cultura de língua portuguesa, num fraternal abraço ao Brasil e aos países lusófonos. Todavia, a questão das filosofias nacionais não é para ele decisiva, parecendo-lhe antes uma questão académica: “Não sei se há filosofias nacionais, e não sei se os filósofos, exactamente porque reflectem sobre o geral, se não internacionalizam desde logo.” Agostinho da Silva tinha uma visão analítica aguçadíssima. “Foi um exemplo de cidadania. Era inconformado e tinha um sentido crítico que lhe permitia ver a conjuntura política e intelectual da sua época”, assegura o tenente Gonçalves Neves, investigador do Museu de Marinha. Tinha uma marcada visão da cultura portuguesa, como parte importante de uma visão do mundo, diferente da nórdica, da “capitalista”.
Embarcando num sonho universalista em que os portugueses que vivem apenas para Portugal não têm razão de ser, apresentou-se aos olhos tantas vezes desconcertados dos seus leitores como um cavaleiro do Quinto Império, um reinado do Espírito Santo, respirando um misto de franciscanismo e de joaquimismo e, em todo o caso, obra mais de cigarras do que de formigas como era próprio das crianças: “Restaurar a criança em nós, e em nós a coroarmos imperador, eis aí o primeiro passo para a formação do império.”
George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto em 13 de Fevereiro de 1906 (de família alentejana e algarvia), tendo vivido parte da sua infância em Barca de Alva, junto do Douro, localidade que muito o marcou. Após concluir a licenciatura e doutoramento em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, frequenta a Escola Normal Superior, em Lisboa, tendo recebido uma bolsa para estudar em França. De regresso a Portugal, foi colocado no Liceu de Aveiro, onde recusou assinar uma declaração que o obrigava a não seguir a ideologia marxista. Ele ensinava a liberdade de pensamento - e assim procedeu. Foi demitido.
Uma das suas características mais marcantes é a capacidade de comunicação. Era magnético na oralidade. “É um orador ao nível de um Padre António Vieira ou de um Santo António”, opina Fernando Dacosta. “É notável a sua capacidade de se expressar, o seu raciocínio, um raciocínio sempre imbuído de uma afectuosidade muito peculiar.” Ao longo da sua vida foi convidado para fazer conferências onde se juntavam centenas de pessoas só para o ouvir. “Isso provocou a inveja dos papas da cultura instituída. Em Portugal, as pessoas da cultura caracterizam-se por uma postura de gravidade, distanciamento e quase intocabilidade. Agostinho da Silva é o grande subversor. Subverte este esquema.”
Entre 1935 e 1944 reside em Madrid (como bolseiro) e depois em Lisboa (vivendo de aulas no ensino particular e de explicações), onde se relaciona com o grupo “Seara Nova” e, posteriormente, com António Sérgio. Em 1944 parte para o Brasil, onde escreve nesse mesmo ano o livro “Considerações”. Reside no Uruguai e na Argentina, realizando trabalhos no domínio da histologia. Em 1947, regressa ao Brasil, onde ajuda a fundar universidades (afastadas, normalmente, dos grandes pólos de desenvolvimento), estações científicas, centros de pesquisa e intercâmbio, a par de intensa actividade pedagógica e pesquisas em entomologia e parasitologia. “A obra que ele deixou no Brasil é gigantesca”, salienta o fadista Carlos do Carmo. “E, ao mesmo tempo, tinha um sentimento muito positivo em relação ao ser português.” Em 1953 Agostinho da Silva publica a sua única obra de ficção propriamente dita, “Herta, Teresinha, Joan”.
Realiza inúmeras viagens pelo mundo, visitando países como o Japão (que percorre demoradamente), Macau e Timor. Em 1969 passa a residir em Portugal, tendo sido nomeado conselheiro e consultor junto do ICALP e ainda no Centro de Estudos da América Latina - Universidade Técnica de Lisboa. Morre em Lisboa no Hospital de S. Francisco Xavier, num domingo de Páscoa, em 3 de Abril de 1994, depois de ter vivido toda a vida em constante vigilância.
Fonte: Os Grande Portugueses - RTP